Como a indústria automobilística pode guiar o mundo em direção ao aço verde?
O uso de aço com emissões mais baixas acrescentaria apenas 1% ao preço do veículo novo médio.
O aço sustenta nosso mundo, mantendo edifícios e máquinas. Ele também representa um grande desafio no combate à mudança climática, já que a produção de aço depende, em grande parte, de combustíveis fósseis poluentes. O setor automotivo pode ser um ator-chave para mudar a situação.
Atualmente, a produção de aço é responsável por cerca de 7% das emissões globais de gases de efeito estufa. Há uma gama crescente de tecnologias capazes de produzir aço com emissões muito mais baixas – embora algumas ainda estejam em desenvolvimento e, geralmente, tenham um preço maior. O setor automobilístico poderia ser um mercado inicial fértil para essas inovações, tanto por ser um dos grandes atuantes da indústria quanto pelo fato de que a mudança para materiais mais caros só aumentaria os custos dos veículos novos em menos de 1%, segundo um novo relatório.
Encontrar maneiras econômicas de produzir os materiais dos quais dependemos e, ao mesmo tempo, reduzir as emissões, é um grande desafio para o setor industrial. Os fabricantes de veículos que estão adotando o aço mais ecológico podem fornecer um modelo de como colocar materiais mais amigáveis ao clima no mercado sem afastar os clientes.
Como os fabricantes de automóveis usam muito aço, eles têm a oportunidade de liderar o processo de descarbonização do setor, diz Peter Slowik, analista que encabeça a pesquisa sobre veículos de passageiros nos EUA para o International Council on Clean Transportation (ICCT).
Cerca de 12% da produção global de aço é destinada ao setor automotivo, e, em algumas regiões, a porcentagem é significativamente maior – cerca de 60% de todo o aço primário (não reciclado) produzido nos EUA é destinado à fabricação de veículos. Esse aço não reciclado tem emissões mais altas do que a versão reciclada, portanto, substituir por um aço mais ecológico no setor automotivo, que usa principalmente material não reciclado, teria um impacto enorme.
Atualmente, a produção de aço costuma exigir que as siderúrgicas aqueçam as matérias-primas a temperaturas altas usando combustíveis fósseis, como o carvão, para conduzir as reações químicas que transformam o minério de ferro em aço. Entretanto, aumentam-se as maneiras de produzir aço com menos emissões, incluindo esforços para adicionar tecnologia de captura de carbono a fábricas, sejam novas e que já existem, além de implementar novos recursos que utilizem eletricidade em vez de fósseis combustíveis.
Um dos principais candidatos à produção de aço com baixas emissões é um processo chamado de redução direta, no qual as reações químicas podem ser movidas por hidrogênio combustível no lugar do carvão. Se esse hidrogênio for produzido com fontes de energia renováveis ou com outras origens de energia de baixo carbono, ele será capaz de produzir o metal com até 95% de redução nas emissões.
O aço é responsável por uma grande parte dos impactos climáticos da fabricação de um veículo – portanto, a troca por aço verde poderia reduzir as emissões associadas à construção de um carro em 27%, para o relatório do ICCT.
E os materiais também não inflariam drasticamente os custos. “Em geral, estamos descobrindo que isso não aumentaria muito o custo do veículo”, diz Slowik.
Hoje, a H2 Green Steel está construindo o que pode se tornar a maior fábrica de aço de baixa emissão do mundo, com capacidade para 2,5 milhões de toneladas métricas de aço até 2026. A empresa afirmou que seu produto custará de 20% a 30% a mais do que o aço convencional. Isso acrescentaria cerca de US$ 100 a US$ 200 a mais ao custo de materiais de um veículo, totalizando menos de 1% do veículo médio.
Em outro estudo recente, que examinou o aço na fabricação de veículos na Europa, os especialistas estimaram o custo adicional em apenas € 105, ou cerca de US$ 115, para um automóvel feito inteiramente com aço produzido por um processo movido a hidrogênio em 2030. E mesmo esse pequeno acréscimo nos gastos pode desaparecer no futuro, à medida que os volumes de produção crescem e os custos diminuem.
Fonte: Mitt